segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Cuidando do Cuidador - Depressão - Saber aceitar que se trata de uma crise e não forçar a saída do estado




Marise Jalowitzki

Os quadros de depressão precisam ser levados a sério e, felizmente, cada vez mais isto vem acontecendo. É preciso dedicar igual atenção ao cuidador, isto é, a pessoa que atende as pessoas depressivas por ocasião das crises ou nos atendimentos nos centros de atendimento especializados.

Tenho amigos que, mesmo sendo profissionais da saúde, trabalhando em hospitais, ao serem destacados para o acompanhamento dos participantes do CAPS, em alguns meses não aguentaram e tiveram de entrar em licença psiquiátrica.

Quantas vezes o depressivo é um familiar e é você que convive com ele? Importante atentar para a necessidade de preparo para lidar, para nao piorar ainda mais a crise do familiar depressivo, e, ao mesmo tempo, não sobrecarregar a si próprio.

Uma pessoa depressiva pode exercer uma profissão, ou estuda e, de uma hora para outra, sem nenhum motivo aparente, deixa de cumprir seus compromissos, simplesmente não quer sair da cama, ou se arrasta pela casa sem vontade pra nada.

Quem convive com um ente querido com depressão sabe quão difícil se torna este trato diário, quando o outro está apresentando os sintomas da doença. Exige uma sobrecarga emocional do cuidador e, por isto, toda informação pertinente é primordial para saber conduzir as situações aflitivas.
O Brasil sofre uma epidemia de ansiedade. Ansiedade pode levar à depressão e a idéias suicidas e, ainda pior, à consecução do ato. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), nosso país tem o maior número de pessoas depressivas da América Latina. Conviver com um transtorno de ansiedade é desafio diário para 18,6 milhões de brasileiros conforme mostrou a OMS (Organização Mundial da Saúde) recentemente. 

A depressão afeta 12% da população brasileira. A depressão, com ou sem tratamento medicamentoso, tornou-se uma das principais causas dos 11 mil suicídios  registrados anualmente por aqui.



ENTENDIMENTO QUE SE TRATA DE UMA CRISE

Quem se prontifica (ou é direcionado) a ser auxiliativo, geralmente quer que o outro saia deste quadro de sofrimento. O que, porém, nem sempre acontece.
Um dos mitos, em se tratando de quadro depressivo, é tentar (a mais das vezes, sem nenhum sucesso) retirar a pessoa daquele mar de tristeza em que ela está imersa.

Bem mais que dar conselhos vazios, tipo "se eu fosse você", "faça um esforço" ou "sai dessa", o importante é "dar o ombro", mostrar que compreende e está receptivo.

Insistir para que a pessoa reaja, pode piorar o quadro depressivo e, por mais boa vontade que o Cuidador tenha, por mais carinho externado, não raro ele(a) se frustra e também desequilibra emocionalmente.

Importante é permitir que o outro fale, e manter-se em posição de escuta respeitosa, sem interferir. Geralmente o que o outro precisa é apenas desabafar, ainda que sejam as mesmas coisas, situações para as quais nem sempre há solução, como perdas, por exemplo.

Pode ser salutar apontar situações parecidas onde, ao final, tudo deu certo.
O Cuidador tem de ter bem presente que está lidando com uma pessoa portadora de uma doença emocional e que, durante o tempo que durar a crise, vai ser assim. 

E de que muitas vezes não adianta querer oferecer programas legais na intenção de que ela melhore. Nem sempre isto é possível, pois a pessoa em crise simplesmente não consegue sair daquele astral, e o cuidador tem de estar ciente disto. E não ficar chateado, nem se sentir impotente.

É um preparo emocional que precisa ser internalizado, aprendido, para não gerar frustração em si mesmo e não acabar se impacientando com o doente, por mais que o ame.

Deixá-lo o mais confortável possível, dar a mão em sinal de conforto quando estiver muito triste, chorando. Ser companhia. Um chazinho também pode ser um conforto. Uma massagem suave. Um abraço.



IMPORTANTE RELAXAR, SAIR DO ESTADO

O Cuidador, após sentir que pode se afastar (o paciente adormeceu, ou está vendo um programa um tanto mais tranquilo, ou lendo (ou fazendo de conta), etc., deve procurar relaxar.
- Deitar de barriga pra cima.
- Tentar não pensar em nada, ou pensar numa coisa ou serzinho amorável, como um cãozinho dócil e amigo, por exemplo.
- Fechar os olhos e realizar uma breve massagem sobre as pálpebras.
- Aceitar as coisas como elas são (ou estão) é fundamental.
- Ver outro cenário (ou imaginar), onde as coisas estejam mais tranquilas, harmoniosas.
- Pode ouvir uma música calma, preferencialmente instrumental.
- Procurar fixar uma imagem com bastante cor, preferencialmente o amarelo ouro (que evoca o raciocínio lógico) e o roxo (que transmuta a situação de onde ela está para onde a idealizamos).
- Tomar, ele também, um chazinho ou água (preferencialmente morna). Se suportar bem, um café com pouco açúcar (mascavo).
- Se possível, tomar um banho morno ou frio.
- Dizer-se: Não sou super herói (heroína)! Fiz o meu melhor! Amanhã será outro dia!

Ajuda a manter forte e disponível. Sem autopersuasão nem autoconvencimento. Só sentindo e sendo.



PONTOS ONDE BUSCAR AJUDA


Serviços de Saúde e Grupos de Apoio

- CAPS - Centro de Atenção Psicossocial - estão geralmente vinculados à prefeitura do município, operando em locais específicos ou em salas de hospitais.

- Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde)

- Universidades geralmente também oferecem estes serviços, nos mesmos moldes 

- Neuróticos Anônimos - Grupos que geralmente estão operando em salões paroquiais da Igreja Católica ou em sedes da Cruz Vermelha

CVV - Disque 188
Por meio do telefone 188, o CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio emocional a pessoas que querem e precisam conversar, sob sigilo absoluto. As ligações são gratuitas em todo o Brasil e podem ser feitas em qualquer horário, todos os dias.
Emergência
SAMU 192, UPA, Pronto Socorro e Hospitais.


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